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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Minha Campinas...

Campinas, devo uma homenagem a você!

No dia 14 de julho ouvi uns dizeres lindos, fazendo referência ao aniversário desta cidade. Emocionante, e sinto que também deveria escrever, principalmente por não ter expressado em suas ruas meus parabéns!




Falar em Campinas me faz pensar em saudade, muita saudade, num desejo absurdo de voltar, numa vontade de reviver... Penso em conquistas diárias, nas perdas, nas lágrimas ai deixadas, mas também em gargalhadas espalhadas por todos os cantos.

Quando me recebeu, Campinas, eu era menina da cidade do interior, não poderia ter reagido diferente: medo das ruas, das pessoas, da imensidão desse lugar, dos inúmeros ônibus, das notícias que via. Minha segurança estava entre as quatro paredes de um apartamento, onde humildemente tinha "meu" sofá azul.



Carregando sempre minha agenda, registrei ali meus medos, minha vontade imensa de retornar, minhas impressões das pessoas, e fazia a contagem regressiva para os tão esperados finais de semana. 


Foi também nesta cidade que fiquei sozinha e recorri a uma pessoa que não conhecia muito bem, mas que veio ao meu encontro, iniciando as os primeiros capítulos de uma amizade que veio a se revelar no passar dos anos como algo incomparável, insuperável e inesquecível.


Pelas ruas, andava rapidamente, com o olhar tão esperto quando os passos. A noite era vista apenas da janela e me parecia um lugar calmo, até mesmo poético, ainda mais quando passei a ouvir uma música como que serenata. Depois de algum tempo, descobri que se tratava de um músico que tocava para alguém, recebendo sempre aplausos no final de cada uma. Algo que nem parecia combinar com aquela cidade, onde as pessoas pareciam viver apenas para elas mesmas, sem saber o nome de seus vizinhos.

Subindo e descendo a Rua Dr Quirino, conheci pessoas das quais não me esquecerei tão fácil, que se não me lembrar dos nomes, não me esquecerei da presença que chegava a ser familiar.



- Os porteiros do saudoso Fragata, que me viam aproximar e já abriam os portões, que conversavam na portaria durante horas, com os quais compartilhava a comida que fazia mandando-a pelo elevador, e que depois fizeram minha mudança e até choraram na despedida.

- A Academia Movimento e Forma que tinha os mais variados personagens: o Carlão que de grande tinha apenas o nome; o Hatha Yoga um senhor que falava sozinho e um dia me convidou para ir a uma danceteria; os amigos bombados que eram imensos e se desfaziam nas férias; o Careca que tinha um carro invocado, uma barbicha e era uma pessoa um tanto estranho; os dois cegos que não acertavam nunca o par de meia; o Castro que dizia ser o Gianecchini e tinha uma tatto que cismava que ela diminuia quanto mais treinava, a Norma sempre de maquiagem forte a qualquer hora do dia ou da noite...

- Mais adiante, o senhor do estacionamento que jogava damas com o mercenário Chaveiro, que tinha um sorriso que já custava no mínimo 50 reias. Devo a ele minha habilidade de consertar tomadas, fios de telefones, antenas de tv e o conhecimento do fio coaxial. Valia qualquer coisa para não dar nenhuma nota a ele.
Vale lembrar que minha mãe sempre foi aflita para não dar minhas informações, e eu brincava que não podia dar o Cep... hahahaha E um dia, quando foi me fazer uma visita, deixou o carro no estacionamento, e minha avó, a Bilia, comentou: "Não fale nada onde vamos". Ao sair do carro, ele disse: "Nem precisa dizer que é a mãe da Luciana."

- Outro personagem presente na rua é o senhor que vendia jogo do bicho, o qual nunca comprei, porque o dinheiro era contado, e não ganharia. O pensamento negativo não me permitia nem questionar o preço. Mas ele sempre cumprimentava e nos acompanhava com o olhar.



- Do outro lado da rua, "nosso mercadinho", onde o Julio sempre nos dava "Bom dia, meninas." Lá ligávamos quando acabava o leite cedo, ele guardava o material quando esquecíamos e chegou a nos dar vodkas quando mudamos...

Chego a ver a rua tal como era. Há tempos que não passo por lá, e imagino que possa estar modificada, com outros personagens que não sabem da minha história, mas seria feliz reencontrá-los.

Por fim, a faculdade, lugar que me ensinou muito do que hoje sei, que me fez crescer, que me mostrou pessoas altamente qualificadas, que me reconheceram e que tão bem me formam.



Uma legião de pessoas merecia um espaço, nem uma linha que fosse, mas seria injusto esquecer de uma que fosse. Então prefiro destacar:


*Liney, a imortal para mim, professora de português, a qual fui monitora durante os anos da faculdade.
* Reynaldo, um fenômeno, professor de inglês que tão bem falava e apresentou os poemas mais fascinantes de Willian Blake entre outros e posso ainda ouvi-lo...
* Graciema, uma professora muito exigente, corretíssima apesar dos dedos tão tortos...
* Professor Aquino, diretor da faculdade, homem culto, das palavras difíceis e fazia qualquer recado parecer uma homenagem...
* Cristiane: minha colega de sala, minha amiga para vida, e minha família na cidade. Juntas estudávamos muito e não compartilhávamos tudo que sabíamos. Tínhamos sempre uma carta na manga... rs
* Karina: minha colega de sala, companheira de muitos dias, divertida, alegre, sempre cantanto desde o amanhecer.
* Vânia: minha colega de sala, uma pessoa dedicada, esforçada e vitoriosa, que dividia tantos dias, tantos momentos engraçados...
* Saulo: aluno da noite, que conheci na sala de informática (CEAM), desde sempre um professor, um poeta incrível, uma pessoa única.
* André: um colega que pela sua beleza não precisava fazer tantos trabalhos quanto nós, e recebia suas notas devido a algumas táticas de sucesso...
* Diomar: aquela que trabalhava na biblioteca, que ensinou a receita de chá de alho e muito sobre amizade e sobre a vida.

Hoje a faculdade já mudou, as pessoas mudaram, casaram, sumiram, mas, em um lugar muito especial dentro de mim, sempre existirão, por terem me mostrado uma cidade que eu não via quando cheguei, pessoas que tornaram o lugar mais aconchegante, familiar, parte de mim.... Pessoas que muito me ensinaram...


Campinas, cidade que tem vida, todos os dias, todas as horas, cidade que não para...
Falar de Campinas é ver que embora tenha escrito muito, ainda falta muito mais a ser dito: os passeios de ônibus em pé, pendurada, ou no fundo pulando nas lombadas, as pessoas engraçadas que estavam dentro dessas lotações e que se dissolveram...
As batidas de porta do vento no Pombal
O saudoso Alitche
A piscina da PUCC
A 13 de maio
A loja de brincos
Unicamp
Cambuí

Em alguns trechos me refiro a nós ao falar da cidade, porque minha história não é somente minha, mas de outra metade: Cristiane, docememente Eliza!



Campinas, toda vez que estou nesta cidade sinto-me abraçada, porque você sabe que foi uma grande professora para mim, que fez com que eu vencesse meus medos, que conhecesse pessoas geniais e eternas, que me fez apaixonar pelo mundo das "Letras" e que me tornou a profissional que hoje sou...

Campinas, um dia desejo voltar para seus braços, mas, se isso não acontecer, saiba que será sempre uma ausência dentro de mim...


Termino com um poema de Drummond que, se não diz tudo, diz muito:

AUSÊNCIA


Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


Um comentário:

  1. Eterna amiga Lu,

    Construimos juntas algo além dos muitos bons momentos, além do favores, além do companheirismo. Talvez se pareça com uma grande confiança na amizade e saber que por mais distante que esteja, não está tanto assim, afinal metade é metade. Faz parte constante. Vou deixar um trecho de um texto que me fez lembrar de você.

    A glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso gentil, nem a alegria do companheirismo: é a inspiração que toma conta daquele que descobre que a outra pessoa acredita nele e está ansioso para oferecer sua amizade como prova de confiança.

    Saudades!!!!

    Eliza

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