Dia 24 de maio testei positivo para a Covid e "O Castelo de Vidro" foi meu companheiro de isolamento, de férias forçadas em que pude relaxar durante o repouso. Tive um resfriado acompanhado de uma dor de garganta que não passava e foi a cultura, junto da companhia de minha mãe e do meu gato "Zé" que salvaram meus dias.
O que eu fiz nesses dias? Li, assisti "Emily em Paris" (série que amei), joguei paciência, organizei o guarda-roupa, colori, dormi, não fiz nenhuma atividade física, comecei o tratamento de auto-hemo com ozônio para a imunidade e provavelmente comi mais do que deveria. Que delícia que é ficar em casa!
O livro em questão foi mais um presente de minha querida amiga, ex-supervisora e colega de trabalho, de quem carrego carinho, admiração e saudade: Simone. Obrigada por mais uma história tão tocante como essa.
Comecei o livro sem ler detalhes que constavam na orelha do livro ou sem me dar conta do nome da escritora. Entrei na história como quem mergulha de olhos fechados e só depois descobri que era um livro da vida de Jeannete Walls. De repente a leitura ficou mais dolorida, teve uma atmosfera mais pesada, seguida de uma admiração que só crescia. Não se tratava de uma ficção, mas de uma história de vida, de quem cresceu em um lar em que a leitura alimentava, mas que faltava pão, cuidados básicos, falta de proteção, mas que por vezes transbordava de amor e carinho.
O pai, apresentado como um grande sonhador, é uma figura que nos cativa tanto, mas que nos dá asco quando não se comporta como o verdadeiro herói que sempre deveria ser.
Por mais miserável que fosse a situação, ele criava memórias afetivas para os filhos, conduzia a narrativa em outro patamar, longe da realidade nua e crua, dava outros tons. Como foi encantador dar estrelas aos filhos como presente de Natal, fez com que todos embarcassem na ideia de um Castelo de Vidro sem que tivesse qualquer base de fato para construí-lo, fez das crianças pessoas fortes, valentes, guerreiras e capazes de alcançarem a vitória, conseguiu dar material para que construíssem os próprios caminhos e seguissem suas vidas...
Mas também foi um pai que, por necessidade e vício, roubara os filhos, que entregara a filha em um bar como se fosse prenda; desapegado de tudo, que descartara um animal de estimação arremessando-o do carro como um objeto em excesso, que foi tantas vezes egoísta, individualista e ignorante... Mas, por pior que fosse em suas outras versões, era sempre o pai, não perdeu esse posto em nenhum momento, por nenhuma razão justificável. Custou deixá-lo partir.
A mãe também tinha uma vida alternativa, era artista, queria viver para arte e de sua arte, sem se importar muito com o futuro das crianças, nem sequer com o presente. Bem menos amorosa que o pai, menos agressiva que o pai, mas tão egoísta quanto ou ainda mais... Ela estava em primeiro lugar, era sua própria prioridade, e não conseguia se desvencilhar do marido, sujeitando-se a determinadas situações humilhantes e expondo os filhos a elas também.
E vivendo sem um lugar fixo, seguiam como se a vida fosse uma grande aventura proporcionada e conduzida, em especial, pelo pai. E, assim como o pai sonhara o tal castelo, as meninas projetaram para si um "castelo" longe dali, onde pudessem ser realmente alguém, que significassem neste mundo, que estudassem e tivessem um futuro melhor e mais promissor. Dessa forma, uma segue viagem e abre caminho para a próxima que irá resgatar cada um que tivesse o sonho de ser resgatado.
Aos pais também foi dada a chance, mas eles escolheram a vida nas ruas, morar em barracões abandonados e viver de migalhas.
"-Nunca construímos o Castelo de Vidro.
- Não. Mas nos divertimos planejando.
- Foram belos planos."
Cada um é responsável por suas escolhas, e é preciso ter muito cuidado ao atirar a primeira pedra, porque ele é de vidro e pode se desmanchar de uma hora para outra, ou ainda, pode mostrar, no reflexo, o quanto o seu castelo de vidro é tão frágil ou ilusório quanto o alvo.
Não assisti ao filme, mas aproveitei para ilustrar a postagem com as cenas. Não sei se tenho coragem de assistir, mas gostaria a fim de fazer uma análise comparativa. Tenho até a impressão de ter visto a cena sem ter visto o filme, tamanha genialidade da obra.
SELEÇÃO DE TRECHOS...
"Sua casa é onde está seu coração."
"Se uma mulher parece bem, sente-se bem."
"-O que o leva a crer que eu aceitaria o seu pedido?
- Eu não a pedi em casamento. Disse que ia me casar com você."
"Preocupar-se demais com crianças que choram apenas as encoraja."
"A lição que todo pai precisa ensinar ao filho é: Se não quiser afundar, melhor descobrir como nadar."
"Você sabe que se for humanamente possível, eu conseguirei para você. E se não for humanamente possível, morrerei tentando."
"Não há sensação melhor do que estar se movendo."
"A vida é uma peça cheia de tragédia e comédia.
Você devia aproveitar um pouco mais os episódios cômicos."
"Ao contrário de diamantes, relógios eram práticos. Eram para pessoas apressadas, pessoas com encontros marcados e horários a cumprir. O tipo de pessoa que eu queria ser."
"Nunca dizia nada, mas acho que pensava que, como quando éramos crianças, tínhamos mais chances se enfrentássemos o mundo juntos."
"Eu sempre acreditei no valor de uma boa educação."
"Lamento muita coisa em minha vida. Mas tenho um tremendo orgulho de você, Cabra-Montesa, do que você se tornou. Sempre que penso em você, imagino que devo ter feito alguma coisa certa."
"Eu me sentia melhor quando em movimento, simplesmente indo a algum lugar em vez de parada."
"Demorei algum tempo para me dar conta de que só me movimentar não era suficiente, eu precisava reconsiderar tudo."
"A cicatriz significava que eu era mais forte que aquilo que havia tentado me ferir."
Sempre em atraso com minhas postagens,
aproveitei as férias para colocar minhas análises
e reflexões em dia. É mais uma missão cumprida
com relação ao livro lido. Fica sempre a dica de leitura.
Faz pensar na importância da leitura, da cultura, e da
educação como meios, caminhos e ferramentas
para mudar totalmente a trajetória de vida,
o destino e construir o castelo ou seja lá o que for
onde e como desejar. Basta querer e agir.
A educação anda salva.
Leia mais. Leia sempre.
Comente, se desejar.
Até a próxima postagem.
