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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Um ano inesquecível - Ronald Antonhy

Um ano inesquecível é o nome do segundo livro que li com esse título, o que me faz pensar que talvez seja uma mensagem... Quero acreditar que, nos últimos momentos de 2016, vou chegar a essa conclusão. O que deve acontecer para um ano ser inesquecível?


No livro de Ronald Anthony, um ano inesquecível para Jesse foi aquele em que ele pôde conviver com seu velho pai e repensar sobre o amor e seu relacionamento como algo duradouro. Ele nasceu um bom tempo depois que o restante dos irmãos, ficando distante do pai e sem ambiente na casa (era muito novo para as conversas de adulto e muito criança para os irmãos).


Quando Mickey Sienna estava com seus 83 anos, já viúvo, após esquecer uma panela no fogão e quase incendiar a casa, os filhos se reuniram para ver o que deveriam fazer com o pai. Logicamente que a primeira opção foi o asilo, a qual foi descartada por Jesse, que viu, nesse questionamento, uma oportunidade de ter um tempo com o pai.

Este será o ano inesquecível de Jesse, em que ele irá recuperar o tempo que não teve com o pai, preenchendo tantas lacunas de sua vida. Mickey Sienna acabou levando mais do que Jesse gostaria e, aos poucos, foram compreendendo os momentos, respeitando os limites, aceitando o silêncio, aprendendo a ouvir, a dividir. Mais do que isso, Sienna levou uma história guardada em uma caixa, além de seu coração.

Jesse, como qualquer pessoa que já amou, carrega decepções, cicatrizes e encara o relacionamento como algo passageiro. Desse modo, ele não consegue mais rotular o amor como namoro, noivado ou algo assim... Sentir o amor pulsar é um sinal de que é preciso correr antes de sair ferido dessa história toda.


O que ocorreu foi que Jesse conheceu Marina, uma moça fantástica, professora (Preciso dar mais qualidades?). Jesse evitou o tempo todo apresentá-la ao pai, como se tal encontro tornasse tudo mais sério. Mas Marina estava presente quando ele precisou viajar a trabalho, quando queria compartilhar suas conquistas.... Quando se viu sozinho. 


Um ano inesquecível foi aquele em que foi dada uma chance e essa foi abraçada, mesmo depois de ter sido evitada, pensada e repensada. Acho que encontrei a grande chave para responder a pergunta: O que deveria acontecer para o ano ser considerado inesquecível? Encontrar um grande amor? Fazer as pazes com pessoas que foram importantes em sua vida? Ganhar na loteria? Viajar? Não, é ter uma nova chance. Portanto, torne o seu ano inesquecível, agarre sua segunda chance e seja feliz!


Saudade do velho Sienna e de Jesse.... cujos pensamentos são tão parecidos com os meus.

Seleção de Trechos...

"Quando você é incapaz de estabelecer um compromisso, ou significa que valoriza a independência e a individualidade, ou significa que o relacionamento não é tão bom quanto um que se encontra na esquina."

"Em minha cabeça, entre as poucas Verdades Absolutas que definem a humanidade, havia uma que se relacionava a romance: o amor sempre acaba."

"Percebi que existem diversos tipos de amor romântico e cada um tem um prazo de validade. Você pode ser terno, generoso e doce. Você pode ser amargo, egoísta, ferino. Mas não importa como se vista, uma hora você vai ficar nu. Não há meios de manter a profundidade nas emoções. E, se você realmente se importa, vai doer muito mais no final."

"Deveria saber como me iludo e sobretudo como tendo a reagir quando as coisas não se desenvolvem à la Disneyworld."


"- E por que isso é importante para você?
- Porque o que você faz é importante
- Tem algum manual de instruções? Meu jogo veio sem.
- Muitas pessoas não precisam de manual de instruções. Elas simplesmente sabem qual é a coisa certa a fazer."

"Ela ainda era a mulher mais deslumbrante que ele conhecera. Os anos não eram capazes de mudar isso."

"Ele era de outro tempo e não era capaz de compreender que isso funcionava para mim. Para ele, os homens deveriam encontrar companheiras, construir famílias e morar em castelos, onde seriam os reis. Bem como deveriam trabalhar em escritórios, ter um salário, diversificar os investimentos. (...) Para ele, não era assim que o jogo era jogado."

"Lidar com pessoas diferentes implicava vários níveis de risco e recompensa."

"-Seria maravilhoso. Seria como explorar um novo mundo.
- Será como tem que ser."

"Você tem que tentar se atualizar com o fato de que o mundo muda muito além do que gostaria. Mas algumas coisas não mudam nunca. (...) Amor e romance não tinham mudado tanto assim em sessenta anos. Não o verdadeiro amor. Era sempre o mesmo havia milhares de anos."

"Um pouco de otimismo não faz mal a ninguém."

"Um dos privilégios conquistados por quem trabalhava duro e acordava cedo durante a semana era não ter que trabalhar aos sábados."

"Está tudo indicando que mudamos as regras do jogo sem termos concordado com elas."

"Havia uma voz dentro de minha mente. Uma voz mais forte. Que dizia que era assim que deveria ser."

"A mensagem é que há um motivo pelo qual devemos enfrentar tantas desavenças. É um momento no qual há um milhão de coisas que podem dar errado e provavelmente darão. A única coisa que faz as pessoas não desistirem é a absoluta convicção em sua inspiração e um amor incondicional pelo que fazem."

"A gente tem muita sorte quando é presenteado com um caso de amor raríssimo e deve tratá-lo como a joia da coroa."

"Finalmente compreendi que existem algumas pessoas no mundo que valem a pena. O amor nem sempre morre. Às vezes, transcende tudo."



Até a próxima postagem... 
Já de férias, vivendo meus dias
de sol, leitura, academia,
flores e amores!



quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Fala sério, mãe!

Continuo lendo livros de Thalita Rebouças, porque gosto da forma com que escreve, é meu lado menina, juvenil.... E leio na intenção de verificar se emplaco algum novo exemplar em minhas aulas... Mas sempre com o mesmo prazer, independente da finalidade.

Fala Sério, Mãe! é um livro em que o leitor vai se divertir ao relembrar passagens ou se identificar com o momento vivido.
Inicia-se na barriga da mãe, passa pelos 13 anos onde o foco narrativo deixa de ser a mãe para ser Malu, a qual passa a ter controle sobre a própria vida; e vai até os 21 anos.

Entre tantos momentos, vai mostrar a primeira ida à escola com total desprendimento, a aula de ballet sem qualquer talento, a primeira menstruação, o primeiro beijo, a primeira vez, a separação dos pais, a partida da filha para voos mais altos, a despedida da mãe.

Impossível não se emocionar com o final, com o reconhecimento da importância e da grandiosidade dessa figura materna que vamos carregando desde bebê e que segue em nós como algo incomparável, insubstituível e eterno.


Ilustro a postagem com fotos da minha lindíssima mãe.

SELEÇÃO DE TRECHOS...


"Por essas e outras que uma amiga minha diz que aquela rede de proteção que botamos nas janelas não é para as crianças não caírem. É par as mães não se jogarem lá embaixo."

"Outro dia li numa revista que as mulheres não saem de casa sem passar pelo menos 21 minutos se arrumando. Esse tempo se refere a um programa básico, como ir ao shopping. Quando se trata de uma noitada em um bar, a mulherada perde 54 minutos se aprumando."

"Ele é como todo homem, minha filha. Só serve para trocar lâmpada, desentupir privadas, abrir copos de mate e vidros de azeitona."

"É muito bacana pensar que criei meus filhos para o mundo, mas deixei neles minha marca."

"Aquela menininha que eu tanto amava e queria carregar no colo havia poucos minutos tinha ido embora mesmo. Um pouco mais cedo do que eu gostaria, mas fazer o quê?
Hoje, ela escolhe roupas, livros e CDs sozinha e já beija de língua no escuro do cinema. É a menina cedendo lugar não à mulher, mas a uma linda mocinha."
"Entendemos que as coisas não são sempre como a gente quer que elas sejam. Na verdade, quase nunca são do jeito que a gente quer. É errando que se aprende, é estudando que se passa de ano, é respeitando o outro (e sendo respeitado) que se é feliz... Lição aprendida."

"Viagem é que nem festa, começa nos preparativos."

"Ex-mulher é para sempre."

"Um belo dia, você acorda e se vê obrigada a cuidar um pouco de quem sempre cuidou de você. E é nesses momentos em que descobrimos que nossos pais não são super-heróis. São gente como a gente, só que mais crescidos (...)"

"-Estou muito orgulhosa de você. 
- Mas por quê? Pelo que te contei hoje?
- Por ser quem você é."

"Esses seres controversos e incoerentes, os homens."

"Temos de gostar da nossa própria companhia, filha. Aprender a gostar de nós mesmas é um grande passo para deixar de querer entender a cabeça dos homens. Eles são feitos de outro material, são de outra espécie. Nossa felicidade não pode depender deles ou de um relacionamento sério. Existem milhões de coisas que me fazem feliz (...)"


"Para conviver bem com uma ou mais pessoas sob o mesmo teto é preciso aprender a ceder."

"Ah, se as paredes falasse! Eu sei que falei por elas."

"Agora acabou o que era doce. Tenho de ir. Mesmo. Os diálogos, as emoções e todos os momentos que importam vão ficar guardados numa gavetinha muito especial na memória. Toda vez que der saudade é só ir lá, abrir, relembrar e matar a saudade."

"Saio tranquila, boba de felicidade, com a sensação indescritível de quem realiza um sonho."

"- Não fale com estranhos.
- Se eu não falar com estranhos, não caso!"

"Passamos alguns minutos com os olhos grudados uma na outra, sem piscar. O que se passava pela cabeça dela eu não sei. Na minha, um monte de cenas da minha vida, cenas engraçadas, desastradas, tristes... cenas com ela."

"Naquele momento, me emocionei e tive a gostosa certeza de que ela não vai mudar nunca, por mais que eu cresça."

"Um beijo, mãe! E obrigada por tudo! Eu te amo!

Agora vamos aguardar o filme Fala sério, Mãe! com Indrid Guimarães no papel da mãe Ângela Cristina e Larissa Manoela no papel de Maria de Lourdes (Malu). Data da estreia marcada para 06 de abril de 2017....

E vamos dar continuidade às leituras.
Acabando o último feriado do ano...
Acabando o ano...
Até breve!





sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O Livro do Amanhã

"E se soubéssemos o que nos traria o amanhã? 
Poderíamos repará-lo? Conseguiríamos?"


É com esse questionamento que começo a postagem sobre O Livro do Amanhã de Cecília Ahern. Mais um que comprei na Bienal em São Paulo este ano e aquele que escolhi como companheiro de leitura na semana do saco cheio.


Tamara é uma adolescente rica, que não costumava valorizar o que tinha, nem dar muito valor aos pais, à família. A rebeldia era sua marca registrada.

É a morte do pai que vai ser o fato gerador de todo enredo, pois é, depois desse episódio, que a vida de Tamara e da mãe mudam completamente: elas perdem tudo, inclusive a casa e vão morar na casa dos tios.

Longe de tudo, próximo a um castelo em ruínas e muitos mistérios, Tamara vai descobrir, aos poucos, sua verdadeira história.

A mãe pouco pode ajudá-la, parece sempre distante, indiferente a tudo que a cerca. Os tios, embora se mostrem solícitos e receptivos, não preenchem os vazios e as lacunas que Tamara encontra, muito pelo contrário....



Há vários momentos sinistros: a mãe da tia que nunca é vista, a garagem sempre trancada, um varal cheio de espelhos pendurados... Um ambiente de suspense e de terror que prende a atenção do leitor e o conduz até as páginas finais com as grandes revelações e toda explicação.

E por que o livro do amanhã? Tamara encontra um livro em uma biblioteca itinerante que se encontra trancado... Descobre que as páginas estão todas em branco, o que parece ser um diário. Porém, o fato que a surpreende é que toda vez que ela o abre encontra informações sobre o dia seguinte escrito com a letra dela mesma, o que a assombra e também permite que escreva corretamente a melhor história para o dia seguinte...


No que o livro faz pensar? Que devemos escrever a história do nosso hoje da melhor forma possível, porque ela estará totalmente relacionada com nosso amanhã. 
Se soubéssemos do amanhã, será que mudaríamos algo? Talvez aproveitássemos melhor cada instante... Entretanto, acho que haveria uma ansiedade, uma preocupação que faria com que o presente fosse cercado de certa tristeza e menos intenso do que poderia de fato ser...


SELEÇÃO DE TRECHOS...


"Dizem que uma história perde algo cada vez que é contada. Se assim for, esta nada perdeu, pois a contarei pela primeira vez."



"Nunca pensei no dia seguinte, nem na possibilidade de que aquelas seriam as últimas palavras que dirigia a ele, nem que aquele seria meu último momento com ele."

"Agora, me alegro quando acordo e vejo que existe um amanhã."

"Perdi meu pai. Ele perdeu seus amanhãs e eu perdi todos os nossos amanhãs juntos. Agora, pode-se dizer que os aprecio quando chegam. Agora, quero torná-los o melhor que puderem ser."



"Ela tem a profundidade de uma taça de licor."

(Todo mundo conhece alguém assim...)

"Sabe uma dessas coisas que você só tem que dar uma olhada e no mesmo instante ela o liga a alguma coisa?"

"Levar algo comigo era, na verdade, apenas uma pequena munição para me fazer sentir que não estava totalmente sozinha."

"A macieira é a árvore do amor."


(Nunca vi uma...)

"Só quando você sai é que se dá conta de que a vida segue em frente, percebe que tem de fluir com a maré."

"Quando a gente fecha os olhos, pode ficar em quase todos os lugares que deseja estar."

"Talvez ele pensasse que estava ali comigo, mas eu não me encontrava em lugar algum perto dele."

"Ele deveria viver para sempre. Deveria cuidar de mim para sempre. Deveria interrogar meus namorados e me conduzir pela nave até o altar. Deveria convencer mamãe quando eu não conseguisse fazer as coisas do meu jeito, deveria piscar para mim quando percebesse meu olhar. Deveria me olhar com orgulho para o resto da vida. E, então, quando envelhecessem eu deveria protegê-lo, demonstrar-lhe que podia contar comigo para o que precisasse e retribuir-lhe tudo o que ele fizera por mim."



"Compreendi que, quando as coisas fracassam, as pessoas não ficam apenas dilaceradas, se tornam sobreviventes."


"É como qualquer coisa ruim ou assustadora que acontece: quando você a termina ou a supera, sente-se tão aliviado que se esquece de como a circunstância foi terrível, de como você se sentia infeliz, e quer vê-la mais uma vez, ou apenas se lembrar das partes boas, ou dizer a si mesmo que aquilo o ajudou a chegar à nova parte de si mesmo."

"Suponho que seja mais fácil encontrar a saída de tudo quando se encontra a saída desse labirinto. Quando você fica presa no meio, numa série de becos sem fim que formam círculos, é difícil compreender qualquer coisa."



"Todas as famílias têm segredos, a maioria jamais os conhecerá, mas sabe que há espaços, lacunas onde devem se encontrar as respostas, onde alguém deve ter se sentado, onde alguém se habituou a ficar. Um nome nunca proferido ou proferido uma vez e nunca mais. Todos temos nossos segredos."


"Acho que a maioria das pessoas entra nas livrarias sem a menor ideia do que querem comprar. De algum modo, os livros ficam ali, quase que por magia, desejosos que as pessoas os escolham. A pessoa certa para o livro certo. Parece que já sabem de qual vida precisam fazer parte, em qual delas podem fazer diferença ou podem ensinar uma lição, pôr um sorriso no rosto no momento preciso."

(AMEI!)



"Temos de fazer nossos próprios amanhãs."



O ano já vai chegando ao fim...
Mas ainda há tempo de ler. 
São tantos livros...
Até a próxima postagem!








segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O velho que acordou menino

Ler Rubem Alves é uma alegria, já li tanto que tenho impressão de que são textos de alguém tão próximo.... Sei do que gosta, em que acredita, conheço seus questionamentos, suas lembranças, sua história mais do que qualquer parente Avancini por exemplo... ou daqueles que chamo de amigos... kkkk (Peguei pesado... mas é verdade)

O Velho que acordou menino é um livro que vai falar sobre memórias de um passado que não passou -  dos lugares em que viveu,  das histórias que ouviu, do que pensou.

É preciso ser "velho" para ter lembranças, só aquele que carrega certa velhice, seja ela aos 20, 40, 60 ou mais é que consegue pensar em saudade. Saudade de um amor da adolescência, de uma brincadeira de criança, de uma jantar em família... Saudade de pequenos momentos, de simples detalhes.... É preciso ter tido uma gama de histórias e sentimentos para poder recordar.
O título do livro sugere esse mergulho no passado, naquele tempo marcante que ficou registrado e é parte de quem somos hoje e de quem seremos amanhã.
A sensação de que temos ao ler é de ouvir uma boa conversa, em que conseguimos, ao mesmo tempo em que nos atentamos à história, pensar naquela que carregamos... Se tivéssemos a oportunidade, parece que haveria brecha, entre um capítulo e outro, para contarmos.... Lembro também, quando era criança que.... 

A imagem de um balanço na capa, conforme afirma Rubem Alves,é de um brinquedo que permite que aquele que se senta volte a ser criança (menino), o qual não combina, de forma alguma, com tristeza. 


Seleção de Trechos...

"Memória é onde se guardam as coisas do passado."



"As memórias com vida própria não ficam quietas dentro de uma caixa. São como pássaros em voo. Moram em nós, mas não nos pertencem. O seu aparecimento é sempre uma surpresa."

"Alma é o nome do lugar onde se encontram esses pedaços perdidos de nós mesmos."

"A alma é movida à saudade. A alma não tem o menor interesse no futuro. A saudade é uma coisa que fica andando pelo tempo passado à procura dos pedaços de nós mesmos que se perderam."

"Não aconteceu nunca para que aconteça sempre. O corpo se alimenta do que não existe. Temos saudade do que nunca aconteceu."

"A saudade mistura tudo. A saudade não conhece o tempo. Não sabe o que é antes nem depois. Tudo é presente. A lembrança pura não tem data."

"Houve esta vida ou inventei? Se essa vida não houve, agora, porque escrevi, está havendo..."  

"O tempo estava cheio de horas em que nada acontecia, aquelas horas em que se vê o mundo melhor."


"Vi uma pedra no chão, pedra comum, sem nada de especial e pensei que ela estava lá há milhões de anos, contemplando o vale. Peguei os milhões de anos nas mãos e o vale que ela tinha dentro... Aí fiz uma maldade: tirei-a da sua casa e trouxe-a para o meu escritório. Quando olho para ela lembro-me da serra e do vale..."



"Agora eu sei: antigamente é um tempo que se foi, mas que se recusa a ir de vez e fica dentro da gente, atormentando o coração com saudade."



"Tudo é rio. Tudo passa sem parar. Não se pode entrar no mesmo rio duas vezes."


Amor sem fim



"Foi um amor sem fim. Namoraram, ficaram noivos. Às tardes ele ia fielmente à casa dela. Assentavam-se nas cadeiras de vime colocadas na calçada e conversavam. Faziam planos para o futuro como fazem todos os noivos. Enquanto isso ela bordava o enxoval. O tempo passou. A canastra do enxoval ficou cheia. E assim continuaram, fazendo planos para o futuro e cuidando do enxoval, até que ficaram velhinhos. Aí deixaram de fazer planos para o futuro e passaram a confidenciar memórias do passado. Nunca brigaram. Nunca pensaram em se separar. Foram felizes até que a morte os separou."


"Casas velhas são como os velhos, têm alma, ficam doentes, pedem para ser cuidadas, estão misturadas com o corpo daqueles que viveram nelas."

"A infelicidade começa com a comparação."

"Criança não tem esperança. Não precisa. Se alegra no presente. Criança está fora do tempo. Mora na eternidade."

"Quando se sabe pouco se imagina muito."

"Essa pobreza é trágica. Acho que é porque o pobre que sempre foi pobre não tem vergonha da sua pobreza. Mas o pobre que já foi rico é um homem humilhado."

"No lugar onde se diz 'até que a morte os separe' que se diga 'até que a casa os separe'."

"É como no teatro: o que acontece no palco nada tem a ver com o que está acontecendo nos bastidores. Nos bastidores não há regras."


"Por que não jogamos fora objetos que nunca mais usaremos? Talvez porque os amamos. As crianças não continuam a ter ternura por um ursinho velho? Os objetos abandonados são 'partes arrancadas de nós'. Talvez não os joguemos fora por medo de estar jogando fora um pedaço de nós mesmos.... Como se disséssemos aos objetos abandonados: 'Nós continuamos a amá-los'."


"Nós, seres humanos, perdemos a confiança dos pássaros"

Bachelard

"Um presépio verdadeiro tem de ser infantil. E as figuras mais desproporcionais nessa cena tranquila éramos nós mesmos. Porque, se construímos o presépio, era porque nós mesmos gostaríamos de estar dentro dele. Éramos adoradores do Menino, juntamente com os bichos, as estrelas, os reis e os pastores."


"Agosto, mês de ipê amarelo, mês de céu azul, mês de vento, mês de papagaio."


"A conversa era só uma desculpa para estar juntos. A conversa era uma continuação das mãos."




E vamos descansar um pouco
para darmos conta desse restinho
de ano... e de muitas leituras!