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terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Hebe - A Biografia

"Você tem em mãos o livro documento que registra a vida da mulher que fez do seu o maior nome feminino da história da televisão brasileira." 

Cláudio Pesssutti

É com essas palavras do sobrinho de Hebe que introduzo esta postagem. Ele passou a levar a tia famosa e buscá-la depois de uma perseguição de carro que ela sofreu e, depois, passou a morar com ela e se tornou seu empresário.

Não costumo ler biografias, mas tenho algumas que guardo com carinho: Rita Lee, Michelle e Barack Obama, Xuxa e, agora, Hebe.

Vi esse livro na última Bienal de São Paulo, em 2022, e o comprei, porque assistia ao programa da Hebe com a minha avó, fez parte da minha infância e está na minha memória afetiva. A sensação que tive ao ler foi que estava acompanhada pela Bilia, como antigamente.

Detalhe: o livro estava na seção de Prêmio Jabuti! (Eu tenho um amigo que é louco por essa categoria.)

Deixo aqui apenas uma análise comparativa... Uma autobiografia tem emoção, vivência, carrega o sentimento de quem conta, a forma única de quem viveu. Já uma biografia escrita em 3ª pessoa mais se parece com uma linha do tempo detalhada, um estudo sobre a vida da pessoa. É um texto um tanto quanto frio. E é nessa segunda possibilidade que está o livro de Hebe.

Mesmo assim, emocionei-me, em especial, com a morte de Lélio, porque, de alguma forma, lembramos da participação dele na vida da estrela. Eu sabia desde pequena quem era, só não sabia que se tratava de um amor proibido, porque ele era casado. 
Ao ler, também nos apegamos a essa figura, à história do casal, aos altos e baixos, viagens, ostentações, crises... Até o final da vida dele, em 2000. Achei lindo que Hebe costumava deixar três bombons de chocolate na mesinha de cabeceira do marido, caso ele sentisse fome de madrugada. No fim da vida, já na UTI, ela fez o mesmo, deixou ali para ele três bombons. Isso é o amor na prática, é carinho, consideração pelo que foi vivido.

Hebe foi umas das primeiras mulheres da televisão brasileira, portanto sua trajetória não foi nada fácil. Ela estudou até o 4° ano e sentia que não tinha preparo necessário para entrevistar grandes personalidades, mas "Hebe era muito mais preparada do que imaginava ser."

Nasceu no dia 08 de março, cujo nome, na mitologia grega, significa a deusa da juventude - o que diz muito sobre toda a sua vida: seu espírito era jovem, a disposição, a alegria...  Veio da família Camargo, a qual era musical. E nessa vertente que inicia seus primeiros passos na carreira profissional. Foi uma grande intérprete da música popular brasileira, mas também vaiada em um festival em 1967. Deixou de cantar em 1974 quando criticaram sua performance musical e voltou somente em 1997 a um estúdio de gravação.

Trabalhou na rádio, na tv, com programa nos mais variados horários e dias, gravados ou não, passou por várias emissoras, e destaco aqui 25 anos no SBT. Gostava mesmo de programas com auditório, sua maior exigência, pois dizia que precisava de calor humano. Aos 46 anos, era dona de um dos salários mais altos da tv brasileira.

É dela a saudação que se transformou em uma tradição: "Boa noite, São Paulo! Boa noite, Brasil!" - da qual muitos outros fizeram uso, inclusive eu muitos anos depois. É sempre legal saber de onde veio e dar o devido crédito.

Ser entrevistada pela Hebe era sinal de prestígio também e grandes pessoas passaram pelo sofá do programa, onde recebiam muitas vezes o carinhoso "gracinha": Pelé, o estilista Pierre Cardin, o astronauta Neil Armstrong, Mazzaropi. Agnaldo Rayol era uma presença constante em seus programas, sinto que era uma amizade infinita. 
Em 1989, recebeu Xuxa o que causou um tumulto pela fama e popularidade daquela outra grande estrela, a qual Hebe passou a dizer quando a encontrava: Eu sou você amanhã."

Considerava que entrevistar Andrea Bocelli foi uma das mais importantes da sua vida, cuja emoção não  foi a mesma com Pavarotti, pois se sentiu ignorada.

O selinho de Hebe passou a existir em 1990, quando o  recebeu de Rita Lee, e a partir daí tornou-se sua marca registrada.

Foi uma mulher de coragem, de ousadia, muito à frente às mulheres de sua época. Abriu espaço para tantas outras que viriam a trilhar sua carreira na televisão. Gostei do trecho em que ela não esteve presente na primeira transmissão da TV brasileira, porque optou por um encontro com o namorado. Justo. Acho que fez a melhor escolha, embora não tenha sido um amor que ficaria. Mas como saber, se não arriscar. Palmas, Hebe. Eu faria o mesmo.

Uma mulher de muita fé, levava nas viagens uma imagem de Nossa Senhora Aparecida e outra de Nossa Senhora de Fátima. 

Teve câncer, tratou-se mais de uma vez, tinha uma sede pela vida, guerreira, costumava ir a hospitais apenas para fazer cirurgias plásticas antes de submeter-se aos tratamentos dos quais não teve outra escolha. Sempre muito vaidosa, gostava de comprar as roupas que usava nos programas. 

Há também um trecho que me marcou. Ela ganhava muitas jóias de um namorado - Peppino Matarazzo. Quando se separou, devolveu boa parte, pedindo um recibo para não ser acusada e passou a adquiri-las. Não vejo como orgulho, mas como independência. Tornou-se conhecida pelas lindas e extravagantes jóias que com orgulho se presenteava.

Mantinha uma paixão platônica por Roberto Carlos, ofereceu rosa vermelha em um de seus aniversários, ajoelhou-se diante dele, o que mostra que os ídolos também têm os seus. Em 2011, desfilou na escola de samba Beija Flor que o homenageou, e esteve no trio elétrico em Salvador no Carnaval daquele mesmo ano.

O livro fala pouco sobre a amizade que tinha com Lolita Rodrigues e Nair Belo, que é algo que a acompanhou, entrevistas que mais rimos junto delas no saudoso Jô Soares também. Senti falta dessa parte. Percebi um destaque especial para Agnaldo, o qual eu desconhecia.




Vale a pena rir de novo

Comemorou aniversários, foi feliz, viveu intensamente e despediu-se desta vida no dia 29 de setembro de 2012, com 83 anos. A estrela neste dia voltava para seu lugar de origem.

Minha postagem, como o livro, faz pensar em um estudo. Faltou dizer que foi madrinha do Teleton, que até um disco sertanejo gravou, que foi colunista por quase um ano sem receber por isso... Hebe passou por todos os segmentos enquanto esteve aqui, brilhou e deixou seu brilho. 

Na TV da minha sala, onde ela brilhava para minha avó, segue brilhando para mim nesta obra de Artur Xexéo.

"Que este livro seja um brinde, como os muitos com que ela celebrou a alegria de viver. 'À vida', ela costumava dizer (...) Com este livro, eu brindo com a Hebe: à vida."

"Há os que querem, mas não podem.
Há os que podem, mas não querem.
Nós queremos e podemos.
À vida.
(O brinde que ela fazia. Façam também)

SELEÇÃO DE TRECHOS...

"O sofá no qual a mais querida apresentadora do Brasil recebia seus convidados virou instituição nacional. Ninguém tinha prestígio suficiente neste país se não se sentasse ali para ser entrevistado."

"A TV e a Hebe viveram um casamento perfeito por mais de sessenta anos."

"O que Hebe sempre curtiu a vida inteira foi viver."

"A Hebe não estava nem aí se era pobre ou rica. Ela queria viver. Sempre teve paixão pela vida."

"Hebe e a TV começaram a andar juntas antes mesmo de a televisão ser criada no Brasil."

"Impressiona o fato de ela ter se mantido sempre na crista da onda. Isso se deve fundamentalmente à empatia, ou melhor, à simpatia dela. Era algo inato, um talento, seu maior patrimônio."

"Homem que tem a capacidade de chorar é porque é bom, não tem veneno na alma, pode compreender o problema dos outros."

"Na sua concepção, uma boa entrevista sempre terminava com uma sonora gargalhada."

"O mundo era mais simples."

"Ele não era homem para ser casado com uma estrela."

"Ao se amar aos vinte anos, pensa-se que tudo é cor-de-rosa, que são só alegrias e não existe sofrimento. E este engano faz com que as pessoas sofram muito e só depois venham a conhecer o verdadeiro amor, que é feito de alegrias e tristezas, de angústias e felicidades."

"Sei que fui muito amada."

"Ele era um incorrigível e apaixonado também. (...) Bebia demais, fumava demais, jogava demais e, principalmente, amava demais. Cada uma dessas características teve suas consequências na vida a dois."

"Estou aproveitando muito mais o amor, com a mesma eloquência dos 18 e a experiência dos 46. O sentimento não tem idade."

"É tudo uma questão de fase."

"Hebe é impossível de se controlar, ela não se enquadra dentro de esquemas, de marcações, por isso mesmo o programa da Hebe vai ser sempre descontraído, humano, livre, divertido, intrigante, polêmico e simples."

"Tenho o direito de rir e de ser otimista. Trabalhei a vida inteira, desde os 14 anos. E tudo que tenho foi à custa de muita luta. Não pedi nada a governo nenhum, não devo nada a ninguém."

"Hebe pode ser madrinha, pode ser sofrida, pode ser entrevistadora, pode ser politizada, fala de seus problemas pessoais, canta, pensa, opina, é fada e cobradora dos direitos, tudo ao mesmo tempo e fundido numa personagem de extrema definição e personalidade. Seu gosto é eclético, percorrendo a escala que vai do simplório à arte de maior elaboração com naturalidade e interesse. Sofre na carne e transmite - direta ou indiretamente - as crises comuns ao ser humano: o desamor, o tédio, a idade. Ao mesmo tempo, não para de sonhar. Por isso Hebe é o fenômeno de comunicação que atravessa tantos anos de televisão no Brasil."

(Brilhante definição de Artur da Távola, do jornal O Globo)

"A espontaneidade de Hebe era, sem dúvida, a maior atração do programa."

"A independência da mulher é uma coisa importantíssima, que deve ser conquistada e preservada."

"Preciso sofrer o que estou sofrendo para reconhecer a mulher maravilhosa que ela sempre foi." (Lélio)

"Na nossa idade, é difícil encontrar um amor sincero como o que eu encontrei e perdi." (Lélio)

"É preciso esclarecer as pessoas, mostrar a elas quais são os seus direitos, o que elas podem reivindicar. Mesmo quando a gente perde a causa, a luta vale a pena."

"Na medida em que a gente pode, vamos esclarecendo as pessoas."

"Onde está a escada? (...) Esperam de mim uma entrada triunfal, os passos decididos numa escadaria e que dão efeito visual incrível. Por que sonegar alegria?"

"Sapatos de salto 10 sempre deixam a mulher mais elegante."

"Minhas atitudes não são corajosas, são sinceras."

"Hebe Camargo, esta unanimidade nacional, é uma espécie de voz do povo na tevê. Ela é um filtro, diz aquilo que o brasileiro pensa, mas não tem onde botar para fora. (...) Hebe joga no ar, em cadeia nacional. (...) Se for preciso, iremos às ruas com as caras pintadas para te defender, Hebe"
(Ignácio de Loyola Brandão)


Gosto mesmo é do imprevisível, do inesperado e das surpresas que fatalmente acontecem nos programas ao vivo. Preciso trabalhar assim para estar feliz e passar alegria para meu público."

"Festa boa é assim mesmo, vem todo mundo."

"É difícil ter apenas um coração."
(Como concordo.)

"Exercia na plenitude o que mais gostava de fazer: viver a vida."

"Ela é um fenômeno da natureza, um foco de luz que jamais se apaga, pois pertence a uma classe rara de gente que já nasce com um sol dentro de si."
(Lucilia - página 234)

"Tenho sede de viver. E, mais do que nunca, vou viver a vida bem-vivida."

"Não tenho medo da morte. Só tenho pena de deixar de viver."

"Ela tinha uma coisa que eu tento buscar: naturalidade."
(Sérginho Groisman)

"Era impossível ficar brigada com a Hebe. Ela era um sol."
(Lolita Rodrigues)

"Era muita vida numa pessoa só."
(Xuxa)

"Quem é tão cheia de vidas merece mais de um brinde. Às vidas."

Atualizando o Blog e minha vida,
estou já em férias, graças e graças a Deus!
A professora aqui já escolheu as turmas
do ano seguinte e pode descansar agora.
Colocar o sol, as leituras, o Blog e as séries em dia...
Que delícia que é ter o tempo livre,
poder ficar em casa, planejar uma viagem,
pensar nos mimos de Natal 
e ser feliz na minha simplicidade.
Estar com a Hebe e com minha avó 
por meio deste livro, escolhendo as fotos 
foi uma delícia! 
Como é bom relembrar e ficar sob a luz
de uma estrela, cujo brilho é eterno.
Que possamos aprender com ela também! 
"Uma gracinha!"
Fica a dica de leitura e meu sincero desejo
de um Feliz Natal com simplicidade, verdade, 
amor e Jesus,o aniversariante, presente em cada lar!