"Você tem em mãos o livro documento que registra a vida da mulher que fez do seu o maior nome feminino da história da televisão brasileira."
Cláudio Pesssutti
É com essas palavras do sobrinho de Hebe que introduzo esta postagem. Ele passou a levar a tia famosa e buscá-la depois de uma perseguição de carro que ela sofreu e, depois, passou a morar com ela e se tornou seu empresário.
Não costumo ler biografias, mas tenho algumas que guardo com carinho: Rita Lee, Michelle e Barack Obama, Xuxa e, agora, Hebe.
Vi esse livro na última Bienal de São Paulo, em 2022, e o comprei, porque assistia ao programa da Hebe com a minha avó, fez parte da minha infância e está na minha memória afetiva. A sensação que tive ao ler foi que estava acompanhada pela Bilia, como antigamente.
Detalhe: o livro estava na seção de Prêmio Jabuti! (Eu tenho um amigo que é louco por essa categoria.)
Hebe foi umas das primeiras mulheres da televisão brasileira, portanto sua trajetória não foi nada fácil. Ela estudou até o 4° ano e sentia que não tinha preparo necessário para entrevistar grandes personalidades, mas "Hebe era muito mais preparada do que imaginava ser."
Nasceu no dia 08 de março, cujo nome, na mitologia grega, significa a deusa da juventude - o que diz muito sobre toda a sua vida: seu espírito era jovem, a disposição, a alegria... Veio da família Camargo, a qual era musical. E nessa vertente que inicia seus primeiros passos na carreira profissional. Foi uma grande intérprete da música popular brasileira, mas também vaiada em um festival em 1967. Deixou de cantar em 1974 quando criticaram sua performance musical e voltou somente em 1997 a um estúdio de gravação.
Trabalhou na rádio, na tv, com programa nos mais variados horários e dias, gravados ou não, passou por várias emissoras, e destaco aqui 25 anos no SBT. Gostava mesmo de programas com auditório, sua maior exigência, pois dizia que precisava de calor humano. Aos 46 anos, era dona de um dos salários mais altos da tv brasileira.
É dela a saudação que se transformou em uma tradição: "Boa noite, São Paulo! Boa noite, Brasil!" - da qual muitos outros fizeram uso, inclusive eu muitos anos depois. É sempre legal saber de onde veio e dar o devido crédito.
Considerava que entrevistar Andrea Bocelli foi uma das mais importantes da sua vida, cuja emoção não foi a mesma com Pavarotti, pois se sentiu ignorada.
"Que este livro seja um brinde, como os muitos com que ela celebrou a alegria de viver. 'À vida', ela costumava dizer (...) Com este livro, eu brindo com a Hebe: à vida."
Há os que podem, mas não querem.
Nós queremos e podemos.
À vida.
(O brinde que ela fazia. Façam também)
SELEÇÃO DE TRECHOS...
"O sofá no qual a mais querida apresentadora do Brasil recebia seus convidados virou instituição nacional. Ninguém tinha prestígio suficiente neste país se não se sentasse ali para ser entrevistado."
"A TV e a Hebe viveram um casamento perfeito por mais de sessenta anos."
"O que Hebe sempre curtiu a vida inteira foi viver."
"A Hebe não estava nem aí se era pobre ou rica. Ela queria viver. Sempre teve paixão pela vida."
"Hebe e a TV começaram a andar juntas antes mesmo de a televisão ser criada no Brasil."
"Impressiona o fato de ela ter se mantido sempre na crista da onda. Isso se deve fundamentalmente à empatia, ou melhor, à simpatia dela. Era algo inato, um talento, seu maior patrimônio."
"Homem que tem a capacidade de chorar é porque é bom, não tem veneno na alma, pode compreender o problema dos outros."
"Na sua concepção, uma boa entrevista sempre terminava com uma sonora gargalhada."
"O mundo era mais simples."
"Ele não era homem para ser casado com uma estrela."
"Ao se amar aos vinte anos, pensa-se que tudo é cor-de-rosa, que são só alegrias e não existe sofrimento. E este engano faz com que as pessoas sofram muito e só depois venham a conhecer o verdadeiro amor, que é feito de alegrias e tristezas, de angústias e felicidades."
"Sei que fui muito amada."
"Ele era um incorrigível e apaixonado também. (...) Bebia demais, fumava demais, jogava demais e, principalmente, amava demais. Cada uma dessas características teve suas consequências na vida a dois."
"Estou aproveitando muito mais o amor, com a mesma eloquência dos 18 e a experiência dos 46. O sentimento não tem idade."
"É tudo uma questão de fase."
"Hebe é impossível de se controlar, ela não se enquadra dentro de esquemas, de marcações, por isso mesmo o programa da Hebe vai ser sempre descontraído, humano, livre, divertido, intrigante, polêmico e simples."
"Tenho o direito de rir e de ser otimista. Trabalhei a vida inteira, desde os 14 anos. E tudo que tenho foi à custa de muita luta. Não pedi nada a governo nenhum, não devo nada a ninguém."
"Hebe pode ser madrinha, pode ser sofrida, pode ser entrevistadora, pode ser politizada, fala de seus problemas pessoais, canta, pensa, opina, é fada e cobradora dos direitos, tudo ao mesmo tempo e fundido numa personagem de extrema definição e personalidade. Seu gosto é eclético, percorrendo a escala que vai do simplório à arte de maior elaboração com naturalidade e interesse. Sofre na carne e transmite - direta ou indiretamente - as crises comuns ao ser humano: o desamor, o tédio, a idade. Ao mesmo tempo, não para de sonhar. Por isso Hebe é o fenômeno de comunicação que atravessa tantos anos de televisão no Brasil."
(Brilhante definição de Artur da Távola, do jornal O Globo)
"A espontaneidade de Hebe era, sem dúvida, a maior atração do programa."
"A independência da mulher é uma coisa importantíssima, que deve ser conquistada e preservada."
"Preciso sofrer o que estou sofrendo para reconhecer a mulher maravilhosa que ela sempre foi." (Lélio)
"Na nossa idade, é difícil encontrar um amor sincero como o que eu encontrei e perdi." (Lélio)
"É preciso esclarecer as pessoas, mostrar a elas quais são os seus direitos, o que elas podem reivindicar. Mesmo quando a gente perde a causa, a luta vale a pena."
"Na medida em que a gente pode, vamos esclarecendo as pessoas."
"Onde está a escada? (...) Esperam de mim uma entrada triunfal, os passos decididos numa escadaria e que dão efeito visual incrível. Por que sonegar alegria?"
"Sapatos de salto 10 sempre deixam a mulher mais elegante."
"Minhas atitudes não são corajosas, são sinceras."
(Ignácio de Loyola Brandão)
"Neste mundo de dancinhas, escrever é um ato de resistência" Parabéns!
ResponderExcluirAdorei! Tem razão. Somos a resistência. Seja bem-vindo ao Blog!
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