O Lavrador foi o livro de abertura de 2025, escrito pelo meu amigo Luciano Alves. Ele é dono da página "Um pensamento qualquer", a qual sou fã há algum tempo. Tive o prazer de ir ao lançamento do livro em Águas de Lindóia. Acho que todo mundo que gosta desse mundo sabe da importância de um momento como esse, dessa realização de ter um livro da própria autoria. E lá fui eu...
Como bem definiu Kátia Vilela no prefácio do livro, "você conhecerá a história de um lugar, de um tempo e de uma gente que já não existe mais."
E por que não existe? Porque é a história de uma gente simples, de verdade, feita de trabalho, honestidade e esperança; e o dono desse enredo levou a história consigo.
O Lavrador conta a história de Francisco, o nosso bom e velho Lavrador, casado com Maria Dalva, uma dona de casa dedicada ao lar, aos filhos, à família. Assim que nos aproximamos da figura tão admirável dessa mãe, ela nos deixa... Um sopro.
Francisco é obrigado a viver o luto sem se deixar abater, dar continuidade à história daquela família...
Fernando, Celina e Clarinha, os três filhos do casal, iriam sustentar essa família em pé, deveriam ser os frutos, mas eram também as raízes, o sustentáculo.
Fernando começou a ler, estudar, aproximou-se do professor César e trouxeram ideias novas para os cafeicultores, para que não fossem tão explorados e pudessem ganhar mais, ter controle sobre a produção, a venda e o lucro.
Francisco era a ponte entre os mais resistentes, a voz da experiência e a esperança de mudança. Junto do filho e do professor enfrentaram dificuldades, porque o novo assusta, por mais promissor que possa parecer. As pessoas simples são mais cismadas e, depois de uma vida dedicada à terra, temem perder tudo por uma ousadia.
O professor foi perseguido. Confesso que temi pela vida de César. Um professor ser morto, por mais que seja em um livro, é como se colocasse a vida de todos nós em risco. É a velha luta contra o conhecimento, a sabedoria, o crescimento.
O livro tem um enredo simples, e justamente por isso nos faz pensar na simplicidade da vida, dos momentos, do significado da família, da importância de cada um... Faz pensar nos trabalhadores braçais, nos menos favorecidos e na grandeza dessa gente da terra, que é feita de suor, lágrima, amor, que dá a vida pelo trabalho e tem como colheita uma vida significativa... Essa gente de verdade, feita de material humano, de ideais, propósitos, fé, esperança e luta... é motivo de orgulho e de admiração.
Vale a pena ler o livro, conhecer e se deixar levar pela história de Francisco.
Olhando agora a capa.... faço mais interpretações. Francisco à frente, o grande líder. Fernando na sequência, carregando o conhecimento, Celina, a fé; e Clarinha a inocência de uma criança. Ambos projetando grandes sombras... Reflexo de grandes pessoas.
Seleção de Trechos...
"(...) Uma vida de muito trabalho e pouco valor; muito suor e pouco pão."
"Tudo que você ama, você eventualmente perderá, mas no fim, o amor retornará de uma forma diferente." Jordi Sierra
"Ela era a típica dona de casa, cuidava das crianças, do marido, da casa e, quando sobrava tempo, de si mesma."
"Apesar da dor, a vida precisa seguir."
"Era muito novinha para algo tão triste."
"Ele e seus filhos perceberam que unidos a vida poderia ser melhor."
"Ele nem imaginava o quanto faria diferença na vida de muita gente, devido a seu gosto pela leitura."
"A salvação é pelo caminho mais simples."
"(...) a pessoa que mais se parecia com ela no jeito de viver e na fé que carregava."
"A vida simples nunca o incomodou, pelo contrário, orgulhava-se dela."
"Essa luta não pode ser de um homem só. Não pode."
"A esperança é uma semente que precisa ser regada."
"Ela herdara da mãe a fé inabalável."
"Se antes a figura do professor era penas de alguém que cuidava dos filhos daquelas famílias, agora elas o viam como alguém que poderia mudar a vida desses jovens através da educação e do conhecimento."
"Eu conheço muito bem essa nossa gente daqui. Sei a história de cada um, quanto pagaram por cada palmo deste chão... Não é só o valor do dinheiro que conta nesta vida... Tem coisa que não tem jeito de avaliar só com dinheiro... não tem mesmo!"
"Eles entendiam que a vida valia mais que tudo."
"Apesar de tudo, a vida tinha que seguir."
"Ouvia palavras carinhosas, recebia abraços e apertos de mão daquela gente tão simples e tão bondosa; sentia que era um deles, e eles sentiam o professor como um dos seus."
"Não existe nada mais forte do que estes dois soldados: paciência e tempo." (Tolstói)
"Eram dias difíceis, sim, mas não eram para sempre."
"Essa luta não era só dele. Havia também aqueles que o apoiavam e lhe davam força para continuar."
"Os dias arrastavam-se... até o silêncio parecia aumentar."
"Novos tempos tomavam conta de tudo e de todos."
"Teve uma morte tão covarde quanto sua vida."
"Apesar da intensa rotina, ele não desanimava, afinal já estava acostumado, pois em sua vida nada foi fácil. O jovem universitário acreditava no trabalho e na força de vontade, ensinamento que aprendeu desde cedo. Se a vida estava dura, ele revidava à altura."
"Ele, mesmo sem perceber, era o coração daquilo tudo; a parte humana da engrenagem."
"Cheguei no tempo de passar o bastão para a nova geração e pendurar a enxada."
"Uma raiz, quando é forte, dura por muito tempo."
(Belo fechamento... Fez-me lembrar O menino no espelho de Fernando Sabino).
Lu! Lendo seu comentário sobre esse meu livro simples, me deu uma visão que até então não tinha, uma visão de fora, de como chegou a história para o leitor. Fiquei tão feliz quanto o dia do lançamento. Obrigado por ter dedicado um tempo para ler e depois fazer essa riquíssima resenha literária. Parabéns pelo espaço. E viva a literatura 📚🥰✍🏻
ResponderExcluirOi Lu, é uma alegria receber sua visita na página, ainda mais sendo o autor do livro em questão. Que honra!
ResponderExcluirA postagem, como já falei , é um compromisso que tenho com as leituras que faço. Só depois de refletir sobre elas neste espaço é que posso guardar a história, porque sei que ficará aqui, na extensão da minha memória.
Parabéns pelo livro, pela realização desse sonho.
Viva a literatura! Viva!