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sábado, 23 de maio de 2015

As travessuras da menina má

Foi um presente de um amigo. Dentro do papel de embrulho estava uma obra que ganhara prêmio nobel de literatura... um autor novo para minha biblioteca. Foi assim que Mario Vargas Llosa entrou em minha estante por meio do livro: TRAVESSURAS DA MENINA MÁ.

Considero um título leve, brando, irônico até. Quando penso em travessuras, vem à minha cabeça brincadeira de criança, inocente. Desse modo, embora a capa escura indique um clima pesado, não imaginava que a história da menina má fosse, em alguns momentos, tão pesada.

Em meio a fatos históricos detalhados em que estão inseridos as personagens, há uma história de amor entre uma menina e Ricardo, que tem seu início marcado por uma paixão de adolescência.

Impressionante as diversas identidades da menina má: primeiro Lily, uma chilena; depois Arlette, uma guerrilheira; madame Robert Arnoux; Mrs Richarson, Kuriko, madame Ricardo Somocurcio... Otilia.. SETE versões, cada vez com um marido, uma nacionalidade, uma situação, uma aparição inesperada e um elo com o passado que não se rompe de forma alguma.


Enquanto ela percorre o mundo entre idas e vindas, Ricardo segue sua vida como tradutor, conhece diversas pessoas marcantes que permitem que tenha uma vida além das surpresas relacionadas à menina má, embora tenha a confiança de cada uma delas para compartilhar sua história.


Todas essas pessoas que aparecem estão de passagem e, quando há um apego, elas desaparecem, como se nunca tivessem existido. Ricardo experimenta, desse modo, diversas formas de solidão. Mas nada o afeta tanto quanto à sua menina, que vai, como ele, envelhecendo.

Sentimos raiva dela por ser tão imprevisível, por machucá-lo, por estar sempre de partida... Passado um tempo, ficamos ao lado dela, sofremos com as histórias que conta, com as marcas de sua aventura que mal sabemos se são verdadeiras...

E voltamos a ficar ao lado dele, sem entender o que faz com que a aceite de volta tantas vezes.

Acredito que seja mais uma obsessão do que um amor. Sem dúvida, Ricardo não aceita a realidade, luta contra o próprio destino e ama mais do que é de fato amado. Ele vive de momentos que a "menina" lhe oferece, e isso não lhe basta para manter o elo, para dar sentido a vida... Não o faz completo, mas o faz vivo.




Como leitores, opinamos, tomamos partidos, mudamos de posicionamento, julgamos; mas não sabemos ao certo o que se passa com esse casal. Como na vida real, "cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração." e aposta se vale a pena ou não esse amor.

SELEÇÃO DE TRECHOS...


"Felicidade, eu não sei nem me interessa saber o que é. (...) O dinheiro dá segurança, proteção, permite aproveitar a vida sem se preocupar com o amanhã. É a única felicidade que se pode apalpar."

"Na realidade, ele não queria conversar comigo. Tinha me convidado porque precisava de alguém que o ouvisse, precisava dizer em voz alta a alguma testemunha certas coisas que lhe queimavam o coração."

"O segredo da felicidade, ou, pelo menos, da tranquilidade, é saber separar o sexo e amor. E, se possível, eliminar da vida o amor romântico, que é o que faz sofrer. Assim se vive mais sossegado e se aproveita mais, pode crer."

"Os ingleses não têm tempo para a amizade." (Para refletir)

"Mas quem se importa com dinheiro quando a felicidade estava em jogo!"

"Isso me faz sentir viva, útil, ativa. Mas não feliz."

"O medo é uma doença, também. Que paralisa, que anula."

"Ouvia, como quem ouve chover, imersa em seus próprios pensamentos."

"Ele era considerado o ás da família."
"Morar nessa cidade é um grande mérito para ele, equivale a ter vencido na vida."

"Tinha orgulho de dizer que poucas vezes errou em toda sua longa vida profissional. Algumas, sim, porque só quem não erra nunca é Deus, e talvez o diabo, moço."

"Às vezes eu não prestava muita atenção no que ela me dizia, concentrado em como o dizia: com paixão, fantasia, convicção e alegria."

"A satisfação compensava com juros o pouco ou quase nada que aquela aventura lhe rendia."

"Sabia muito bem que meus infortúnios sentimentais se deviam mais a mim que a ela, por tê-la amado de um jeito que ela nunca poderia me amar, embora, algumas poucas vezes, tenha tentado: eram as minhas lembranças mais gloriosas."


ATÉ A PRÓXIMA POSTAGEM!



4 comentários:

  1. Respostas
    1. amei sua forma de contar o livro, estou começando a escrever o meu e ler seu blog vai me ajudar muito

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  2. Olá! Que bom saber disso. Se o blog contribui de alguma forma, já vale muito. Seja bem-vinda e comente sempre que desejar. Boa sorte da sua produção!

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