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sábado, 9 de outubro de 2010

Um presente incomparável

Todos sabem que não posso nem ver assuntos ligados ao meio ambiente, não escondo isso de ninguém, nem dos meus alunos. Textos sobre a conscientização não transmitem nenhuma alegria, nem sequer conscientizam em minha opinião, porque repetem as mesmas informações que todos estamos cansados de ouvir: devemos preservar, cuidar, reciclar, separar os lixos, evitar desperdício e não gastar água... Quer coisa mais chata?



Por outro lado, o Rubem Alves fala sobre árvores de um modo poético, e a natureza passa a ser amada por meio de suas palavras.
A ideia que me fascina é que ele fez um cemitério para seus amigos. Para cada amigo que morresse, ele plantaria uma árvore. Depois, pensou que não precisaria que eles estivessem mortos, e que poderiam escolher que árvores gostariam de ser e plantá-los ainda quando estivessem vivos. Que imagem mais linda, plantar um amigo e se sentar com ele, se houver tempo, na sombra dessa árvore.
Não, não pretendo fazer um cemitério para meus amigos, mas que coisa mais linda plantar um amor. Tê-lo sempre no mesmo lugar, firme, robusto, perfeito.
Um casal que se ama deveria arrumar um canto para planar uma árvore. Ver o amor crescer, brotar, florescer. Não seria perfeito andar pelas flores e folhas caídas?! Que sensação de eternidade viver um amor na sombra de uma árvore.


Uma árvore é símbolo de fidelidade, porque estará sempre a sua espera, convidando-o para relembrar o passado, para ver o presente em forma de flor. E se não houver tempo, se as ocupações e a rotina diária impedirem, que as folhas cubram o chão e o façam olhar para cima novamente e sonhar, e agradecer a Deus por aquela história semeada, por aquele amor plantado.
Mas, se por ventura, este amor tiver ido embora, a árvore ficará como herança, adoçando a memória com seu perfume, fazendo-o pensar que, independente de qualquer coisa, valeu a pena.

Engraçado, quando penso em ser uma árvore, penso também no meu avô. Quando a Bilia estava em sua fase final, internada, eu sabia que meu avô estava ali perto, esperando-a. E na minha cabeça, ele estava sentado embaixo de uma árvore com seu chapéu de palha esperando. E a cena, para mim, não era triste, mas era feliz. Quanto tempo ele não esperava por esse reencontro.



Pensei que gostaria de ser um ipê rosa ou talvez amarelo.
Se me plantarem, queria ser um ipê rosa. Acho uma árvore feliz, calma, encantadora. E se assim fizerem, coloquem-me perto de um lago para que na espera de alguém para sentar na minha sombra, eu possa ter a companhia do bom e velho Tato.


Pensando bem, já adotei uma vez uma árvore que ainda era pequena, queria ver até onde seguia minha história. Mexendo em minhas fotos encontrei uma Luciana em meio à natureza. Interessante. Não sei o que foi feita dessa árvore, e nem sei falar ao certo dessa história....
Mas uma coisa é encontrar uma árvore e adotá-la, fazer dela um capítulo da nossa vida, e outra é plantar, fazer dela nosso coração, nossa alma, nossos sonhos, nossa sombra, nosso futuro.
Alguém que quer ver uma árvore crescer ao seu lado é alguém que está mesmo disposto a seguir qualquer que seja o caminho com vc.



Um casal que se ama deveria plantar seu amor. Quer prova mais linda? Um presente incomparável... Assim é possível falar em meio ambiente, em preservação, porque a árvore passa a ser parte da nossa vida e é dispensada qualquer forma de conscientização, porque ninguém gostaria de ver sua história derrubada, destruída, não é mesmo?!

2 comentários:

  1. Querida Lu, que texto lindo, partindo de dentro do seu "eu". Você já é um ipê, com uma diferença: você floresce o ano inteiro.
    Bj.

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