Gosto da forma com que os livros aparecem em minha vida. "Um sonho no caroço de abacate" surgiu por meio de uma indicação de um amigo e colega de trabalho: Clóvis, que simplesmente o pegou da biblioteca e pediu que eu lesse quando pudesse, que ele tinha lido há muito tempo e gostado da história.
Eu já tinha começado a ler Michelle Obama, mas resolvi fazer a leitura simultaneamente. Não fazia ideia do que se tratava, e me atrevi ao enredo de Moacyr Scliar (que sempre pronunciei erradamente até ouvi-lo nessa indicação). De repente os dois livros me colocavam diante do preconceito também racial, da luta de uma minoria por um espaço que é direito de cada um: ser respeitado enquanto indivíduo acima de tudo, livre para fazer suas escolhas e viver em paz.
O livro é narrado em primeira pessoa, é Mardoqueu quem conta sua história, filho de judeus que passaram por dificuldades, os quais vêm para o Brasil em busca de melhores condições de vida. A esposa tinha sonho de comer abacate, que acaba sendo uma grande metáfora de uma vida melhor.
Os pais vão fazer de tudo para que o filho tenha melhores condições, e, assim o matriculam em um colégio católico, onde ele sofrerá bullying e perseguições de todos os tipos.
Excluído por ser judeu, Mardoqueu encontrará Carlos, excluído também por ser negro. Para agravar a situação, ele irá namorar a irmã de Carlos, também negra, e sofrerá novos ataques.
A sensação que eu tenho, assim como ao ler Michelle Obama, é que os negros sentem-se inferiorizados e vivem tentando provar que são capazes, como se fosse uma batalha interna, como se travassem batalhas diárias com um passado cruel e segregacionista.
Vale a pena ler o exemplar. É curto, simples, um livro que nos faz colocar no lugar de outro, na pele do outro e sentir esse preconceito que deve ser combatido.
Obrigada, Clóvis, pela dica de leitura. Adorei. Mais uma história que carrego comigo.
SELEÇÃO DE TRECHOS...
"Juro por Deus, qualquer Deus, o do Antigo, do Novo ou do Novíssimo Testamento."
"Fazíamos parte da imensa cadeia de apaixonados que, desde o começo dos tempos, se sucede sobre a face da Terra: homens e mulheres que se descobrem, se amam, e depois desaparecem, não sem passar adiante a tocha flamejante da paixão, para outros que também vão se descobrir e se amar."
"Nem todos amam os que se amam."
"(...) Me deu uma alegria selvagem, uma espécie de vertigem, a vertigem que deve preceder o salto do paraquedista vazio."
"Não tínhamos nada a perder, a não ser o medo."
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