"Uma mulher que canta La Belle de Jour no seu primeiro encontro é alguém que vale o investimento"
É com a citação de Cristiane Back, a qual fez o prefácio do livro, que introduzo essa obra tão esperada do meu amigo de quem sou fã desde que o conheci na faculdade: Saulo Pessato.
Laranja com Papaia pretendia ser um pequeno conto, tendo, como plano de fundo, a pandemia. Mas a história tomou forma, ganhou corpo em todos os sentidos e tornou-se um livreto de 66 páginas.
Acompanhei o processo de produção por meio do Instagram, como tantas fãs, e precisava conhecer a protagonista Antonella que parecia tão real e palpável aos olhos do poeta.
Em época de pandemia, ficamos reduzidos ao celular, às redes sociais com medo da exposição, do contagio e não nos damos conta de quanto somos expostos também virtualmente. E por meio de curtidas, trocas de mensagens, o encontro estava marcado: Antonella chegaria à casa do nosso tatuador que estava recluso, sem trabalhar e bem vivo.
Linda e misteriosa, Antonella nos faz criar julgamentos e achismos a respeito de sua identidade por meio de simples gestos, de atitudes, de um pedido inusitado de um suco de laranja com papaia, por cantar um clássico de Alceu Valença, pelas suas notáveis omissões, por um grande pingente com a letra B tão brilhante quanto seu visual marcante...
Antonella enlouquece nosso tatuador com sua presença, e ainda mais com sua ausência, sem contar o quanto nos provoca enquanto leitores.
Ela me deixou nervosa com a situação, fiquei preocupada como se estivesse vivendo tudo aquilo na pele dele, sentindo o mesmo frio que o abraçava na varanda, sem saber o que ela iria dizer, qual seria a revelação e sem saber se estava preparada, como ele, para recebê-la.
E de repente, em meio à conversa, abandonamos a pele do pobre tatuador, e nos transferimos para ela que tentou ser feliz sendo quem era, com sua essência, mas, de alguma forma, nosso protagonista, agora, antagonista, colocou tudo a perder para sempre, sendo responsável por "tatuar" Antonella em sua pele.
Que história!
Foi uma longa espera, mas posso dizer que valeu por toda expectativa criada, devido à intensidade e à entrega. Eles tiveram dois encontros, e eu saboreei Laranja com papaia em dois dias. Coerência é tudo na vida.
Quem nunca se envolveu em um "romance relâmpago" e sofreu com a quebra de expectativas?! Afinal, somos todas Antonella.
O poder da escrita é realmente fascinante, pois nos tira de qualquer situação cômoda, coloca-nos diante de outra circunstância, chocando-nos com nossas próprias verdades e aqui questionamos: O que faríamos se fôssemos Antonella?
O desfecho não poderia ser diferente, aquele era o final, não tinha como seguir a história, mas é verdade que nos gera um desconforto, principalmente por ser mulher, por "comprar" a luta dela e de tantas outras que, como ela, estão pelas ruas, pelas redes sociais, em nossa rua e dentro da gente, tentando construir uma nova história.
Difícil comentar sem dar algum spoiler...SELEÇÃO DE TRECHOS...
"(...) Uma troca de curtidas no Instagram vale tanto quanto troca de olhares na balada."
"Ela me condena e me liberta."
"A mentira é uma tatuagem feia no caráter. Depois da primeira, marca-o para sempre. E são as verdades que nunca mais ficam completamente nuas."
"Quando consegui fechar os olhos, a manhã já tatuava passarinhos."
"Os dias foram passando, ganharam feições de semana, mês, quarentena (...)"
Eu concordo com tudo. Antonella provoca muitas sensações. Senti certo desconforto em alguns momentos, me identificando com o tatuador. Em outros, fui Antonella em tantos sentidos! Se não for pra provocar, Saulo nem escreve. Opinião minha, kkkkkkkkk. Se estão me lendo, recomendo: leiam-no.
ResponderExcluirExatamente o que senti.
ExcluirRealmente é um livro que nos provoca, e o Saulo tem esse dom mesmo.
Eu quero esse livro agora!
ResponderExcluirCompre e se prepare para o misto de sensações. Depois venha compartilhar a experiência aqui.
ExcluirSim! Como não se identificar? É dessas leituras que lavam segredos e como não mergulhar nos dois mundos? No dele, um cara anestesiado pela paixão, e no dela, uma mulher que ganhou da vida turbulências suficientes para derrubá-la e ao mesmo tempo torná-la enorme. Quem passa por essa tempestade sabe que relâmpagos queimam. Já atravessei um oceano para viver uma paixão dessas que a gente vai incendiando pelas vias digitais até que o fogo te sufoca tanto e tão deliciosamente, que você simplesmente vai, com uma gota de alguma razão e um mar inteiro de tesão. E quer coisa melhor que mergulhar no delírio desses desejos? O final a gente já sabe como é. Então respira, porque, ainda assim, fica o prazer da exaustão. Quanto desfrute mergulhar nos significados de um tatuador, de uma Antonella. Saulo se jogou na escrita e você descreveu muito bem o prazer de se jogar na leitura de Laranja com Papaia.
ResponderExcluirUauuuuu!
ExcluirAdorei esse comentário! Só quem já viveu uma paixão assim é capaz de compreender e se jogar nesta leitura com total entrega.
Obrigada pelo comentário e pelo elogio.