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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Capitães da Areia: os donos da cidade, os seus poetas!

O ano começou e eu não tinha nenhum livro novo para ler. Havia um sol lindo lá fora, e eu não podia ir até ele sem companhia. É uma espécie de vício, de loucura mesmo.
Então resolvi ver na minha estante se achava algum que eu não tinha lido ainda... E de repente um livro já velho, com o canto das páginas amareladas me escolheu como leitora e me entreguei aos "Capitães da Areia" de Jorge Amado.


Comecei a ler meio desconfiada, fui direto à história, sem saber do que se tratava. Não li Jorge Amado na escola, nem na faculdade. Sinto-me mais brasileira depois dele...

Fiz uma pesquisa sobre o livro após a leitura e descobri que a obra foi perseguida na época em que foi publicada, sendo queimados vários exemplares em praça pública, em Salvador. No mesmo ano, também foram apreendidas nas livrarias do Rio de janeiro, sob a alegação de serem "nocivas à sociedade". Senti-me privilegiada por poder lê-lo  livremente ao sol...

Tudo isso porque o livro retrata a vida de crianças que crescem nas ruas e são marginalizadas pela sociedade... Porque mostra a forma como eram tratadas pelos ricos, pelas senhoras da igreja, pelos policias...



"Os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas."


Os meninos eram jugados como perigosos, mas, conhecendo-os no dia-a-dia, percebemos que cada um carrega uma marca de dor, uma história de tristeza e que têm princípios.... Só roubam para comer, dividem tudo com o grupo, não podem roubar o colega, pensam sempre em todos...

Aos poucos vamos querendo bem aos meninos tão livres, tão crianças, mas que são tratados como homens, que conhecem a vida como homens... A vida não é fácil para eles. Porém, eles contam com o carinho do Padre José Pedro, que acredita que sua missão é salvar os meninos, porque eles não o fazem por mal, não são culpados pelos seus atos, são apenas crianças!
Há também a senhora do candomblé que os trata como seres humanos dignos de respeito e atenção...


Alguns dos Capitães da Areia recebem oportunidades de uma vida melhor, mas a abdicam em nome do grupo. Um deles, o Sem Pernas, entra em uma casa para ver onde ficam os objetos valiosos para serem roubados, e se faz de bom menino, tanto que é adotado pela senhora. Recebe a melhor comida, roupas, livros, todo carinho e atenção que tantos lhes faltam, mas ele ainda pensa nos outros que ficaram no trapiche e vai embora...

O Professor, aquele que roubava livros e contava histórias, faz desenhos na rua até que um certo dia recebe reconhecimento de um senhor que quer dar uma oportunidade. Entrega-lhe um cartão e depois uma piteira de presente! O menino limpa a piteira com o cartão e não o procura, afirmando que para ele não há chance, que a vida dele é essa, na rua junto com os outros.

No meio da história o trapiche recebe uma menina, Dora, com seu irmão, já que estão na rua devido à varíola que levou a mãe dos pequenos... Os meninos a encaram como uma presa, parecem animais prontos a devorar uma menina. Momento de grande desespero para o leitor, até que percebem que é uma criança e que não podem fazer nada.
Dora passar a ser irmã, mãe, sinônimo de amor, carinho, atenção. Ela vai conquistando seu espaço até se tornar um deles de verdade: nas brigas, nos roubos, nas gargalhadas que marcam tanto esse grupo.

Impressionante como são espertos, malandros, inteligentes em seus planos e ações. Torcemos para que eles atinjam as metas, que não sejam pegos, que saiam rindo e tenham uma vida feliz!

Gosto de perceber o quanto saio do meu dia, do meu lugar  e estou ali entre eles, acompanhando de perto. Vejo o Padre com eles no Carrossel, fico com o coração apertado quando estão preocupados com alguma coisa. Faço parte da cena, da história e só quero que tudo acabe bem.

É uma história emocionante, de luta, de conquistas, de amor entre crianças, de amor feito homem e mulher, de inúmeras perdas, de sofrimentos, mas também de mudança de destino, de fé em dias melhores, de união e amizade!


"Não se vive inutilmente uma infância entre os Capitães da Areia."

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Com certeza, vale a pela ler a obra!
Há um vocabulário específico do local, coisas poucas, mas pesquisei quase todos. Alguns podemos inferir pelo contexto, outros precisamos de ajuda!

Descobri que há também um filme! Vou tentar vê-lo em breve e postar. Gosto de ver como produziram, os trechos que colocaram, como caracterizaram as personagens. Não deve ser tarefa fácil, já que o livro é tão rico... Mas sempre vale a pena ver, comparar e valorizar cada tipo de produção!

E foi com Jorge Amado que comecei meu ano de leitura...



Só uma observação idiota da minha parte: Falo sempre Capitães de Areia, que acho melhor do que "da areia"... Mas fico triste por ser Capitães, soa-me errado. Queria que fosse Capitãos, Capitões..... hahahahhahha... Só para descontrair!


MINHA SELEÇÃO DE TRECHOS


"Havia, é verdade, a grande liberdade das ruas. Mas havia também o abandono de qualquer carinho, a falta de todas as palavras boas."

"Dentro dele ia uma alegria de primavera."

"Gostava de ver a vida correr, sem se preocupar muito."

"Entre os Capitães da Areia quando alguém é amigo serve ao amigo."

"Havia uma possibilidade de dar certo, e ele jogaria tudo nesta possibilidade."
(Eu também)

"(...) Por isso, na beleza do dia, ele mira o céu com os olhos crescidos de medo e pede perdão a Deus tão bom (mas não tão justo também...) pelos seus pecados e os dos Capitães da Areia. Mesmo porque eles não tinham culpa. A culpa era da vida."



"(...) quem a visse pensaria que ela olhava o céu através da janela. Porém, em verdade, ela nada olhava, nada via. Olhava, sim, para dentro de si, para as suas recordações de muitos anos (...)"

"A boa intenção não desculpa os maus atos."

"Os homens assim são os que têm uma estrela no lugar do coração. E quando morrem o coração fica no céu."

"- Ninguém pode mudar o destino.
- Um dia a gente muda..."

"(...) Era uma mulher valente, capaz de aguentar um fuzil. (...) Era um mulherão... Valia um homem."

"Vão alegres. Levam navalhas e punhais nas calças. Mas só os sacarão se os outros puxarem. Porque os meninos abandonados têm uma lei e uma moral, um sentido de dignidade humana."



"A liberdade é como o sol. É o bem maior do mundo."

"O amor é sempre doce e bom."

"Foi como uma sobra nesta vida. Vira santa na outra."

"Contam no cais da Bahia que quando morre um homem valente vira estrela no céu."

"Olhou para o trapiche. Não era como um quadro sem moldura. Era como a moldura de inúmeros quadros. Como quadros de uma fita de cinema. Vidas de luta e de coragem."

"Nem o ódio, nem a bondade. Só a luta."


"Era outro que ia. Não seriam meninos toda vida... Bem sabia que eles nunca tinham parecido crianças. (...) Não tinham conversas de meninos, conversavam como homens. Sentiam mesmo como homens."

"(...) O que faz a criança é o ambiente de casa, pai, mãe, nenhuma responsabilidade. Nunca eles tiveram pai e mãe na vida da rua. E tiveram sempre que cuidar de si mesmos, foram sempre os responsáveis por si."

"Muita coisa aprendeu na cidade, entre os Capitães da Areia. Aprendeu que não era só no sertão que os homens ricos eram ruins para com os pobres. Na cidade, também. Aprendeu que as crianças pobres são desgraçadas em toda parte, que os ricos perseguem e mandam em toda parte. Sorriu por vezes, mas nunca deixou de odiar."

"O sertão comove os olhos. O trem não corre, este vai devagar, cortando as terras do sertão. Aqui tudo é lírico, pobre e belo. Só a miséria dos homens é terrível. Mas estes homens são tão fortes, que conseguem criar beleza dentro desta miséria."



"Os homens valentes têm uma estrela no lugar do coração."

"A greve é a festa dos pobres."

"O destino deles é outro. A luta mudou seus destinos."

"A revolução é uma pátria e uma família."


O próximo livro já está aqui:  À PRIMEIRA VISTA, 
de Nicholas Sparks!

2 comentários:

  1. Que blog esplêndido!Certamente, voltarei mais vezes.
    Fraterno abraço,
    Thiago Damato

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  2. Fico feliz que tenha gostado! Volte sempre que quiser e comente! Obrigada

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