Interessante pensar que temos, em nosso calendário, um dia para celebrar os nossos mortos, porque talvez o dia-a-dia nos ocupe com tantos afazeres que aqueles que nos foram importantes em muitas etapas ou durante grande parte de nossas vidas acabam sendo esquecidos.
Sim, hoje é uma homenagem a todos esses que partiram e nos deixaram como legado as melhores lembranças e uma saudade gostosa. Morrer e ser apagado seria muito triste. Por isso temos que pensar no que fazemos em nosso presente, em como participamos na vida do outro para que possamos ser lembrados, adorados e celebrados ainda quando não mais estivermos entre eles.
Hoje não é dia de chorar, mas de agradecer por terem participado de nossa história, por terem contruibuído com capítulos que escrevemos juntos, pelos ecos de risadas que ainda podemos escutar. Acredito que também temos que rezar por eles, para que continuem iluminando nossos caminhos, porque se tornaram estrelas. Gosto dessa explicação dada para as crianças: ele foi para o céu, virou estrela. Sim, é isso mesmo. Não que seja aquela que olhamos para o céu, mas que são seres de luz, que estão ainda presentes em nossos corações e talvez em nossos caminhos, tirando os obstaculos, ou quem sabe nos carregando em alguns momentos, ou nos dando um beijo na testa como forma de proteção e carinho.
De todas as pessoas que conheci aqui, meu avô com certeza foi uma grande perda, foi a primeira pessoa que me fez sentir mesmo. Ele era uma pessoa divertidíssima, engraçado, assistia a Chaves, chupava bala até metade e guardava, tirava com a cara das pessoas, trazia peixe, gostava das frutas do Natal, jogava baralho, amava dançar... Achava bonito ouvir alguém falando inglês, gostava de passear, tudo para ele estava bom. E as piadas?! Contava um pedaço e morria de rir, depois meu pai o lembrava do restante e ele ria ainda mais. Boas lembranças.
De casa também foi a vez da Bilia, que me fez sentir aliviada, porque a vida aqui já não fazia mais sentido para ela, e o que eu queria mesmo era que meu avô viesse buscá-la para dançarem juntos por esse mundo imenso. Lembro também do tanto que eu e ela brigávamos, o que nem parecia que eu, quando pequena, era muito apegada a ela e dormia no quarto dela de mãos dadas... hahahaha Coisas da vida. Depois passamos a vida brigando por tudo, mas também dávamos risada. Dou risada ainda quando lembro que fazia a unha dela e uma vez coloquei a água e quando vi que estava fervendo perguntei a ela: Não está sentindo? Está muito quente.... Ela nem tinha falado nada. Sempre fomos muito diferentes e isso causava muitos atritos em casa, mas tornavam o ambiente agitado e sempre novo.
Tem também a Tia Clarice, irmã da Bilia, que era uma peça rara. Morreu assistindo "A praça é nossa". Se matava de rir com o Moacyr Franco e tinha pavor de ser enterrada viva. Lembro que me pedia para ir no velório dela e dar um tiro para garantir. Eu dava risada, e ela também ao pensar na cena. E eu ainda brincava: também não se levante se eu for ver vc.
Quando morreu, eu até quis rir de lembrar, e observei bem como ela tinha me pedido, ela já tinha partido mesmo... Não foi preciso dar o tiro hahahaha
O meu vô Hugo também, pai de minha mãe, sempre presente, me recheou dos brinquedos mais legais quando pequena, depois brincava que eu trocava sempre de namorado, e dava foras trocando nomes ou dizendo na frente que era "outro", adorava os cachorros e gostava também de novelas.
Nossa... o Nane... meu bisavô, conheci também. Pai da Bilia. Eu jogava baralho com ele... Uma amável alma.
Lembranças de quem se foi...
Do mundo, o que me recordo bem é do Vinicinho, nosso Pequeno Príncipe, tão cedo nos deixou... Quanto nos divertimos em Campinas nos bares, pagodes, bebendo tudo que tínhamos direito, voltávamos voando pela estrada. Uma vez eu quis trazer umas coisas que não usava mais para Aguas e voltando com ele por uma estrada de terra, não sobrou um prato ou xícara inteira. Era uma pessoa muito divertida, que até para vomitar já me fez cia.... Já me levou passear quando fiquei doente, ria das minhas histórias amorosas que não davam em nada e das minhas aventuras sem fundamentos, era companheiro de shopping e de tantas coisas.. Ele me chamava de capiá... Saudades desse pequeno...
A todas essas pessoas que por aqui passaram, que pela minha vida cruzaram e de certa forma permaneceram gostaria que tivessem ficado, mas Deus sabe o que faz. Cada um tem seu tempo e nesse tempo conseguem se tornar tão inesquecíveis que passam a ser eternizados dentro da gente.
Espero que recebam um beijo carinhoso na testa e um pouco da minha luz para que continuem a iluminar nossa vida aqui embaixo. Saibam que estarão sempre na memória e nas lembranças mais gostosas dentro do meu coração. Um dia nós nos reencontraremos de alguma forma, e será uma grande festa.
Enquanto isso, vocês iluminam daí e nós refletimos daqui.
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