Falar de Aguas de Lindóia me faz pensar em lar, família, aconchego, vida. Aqui vivi e vivo muitas histórias.




Engraçado que todos amavam aula de Artes e Educação Física, como nos dias de hoje, mas eu não. Já me mostrava uma pessoa diferente nesses aspectos. Eu não sabia fazer margem, não sabia cortar reto, nem circular. E também não via propósito em desenhar milhares de vezes a fachada da escola. Professores... quantas frustrações....
Quanto à educação física, as aulas eram difíceis para mim: virar cambalhota, virar na barra, pendurar na corda. Eu não queria ver o mundo de ponta cabeça. Sábia, eu não queria ver o mundo de pernas para o ar. Quantas lágrimas...
Fui crescendo e arrastei por um bom tempo minhas bonecas. Não tinha vergonha de nada. Gabriela, Vivian, Paloma eram minhas companheiras, e eu não iria abandoná-las por mais que minha altura me dissesse que o tempo estava chegando ao fim. Eu sabia que podia ignorar os fatos e viver meu modo de ser feliz.
Confesso que essa brincadeira foi prolongada até demais. Abandonei as bonecas pouco antes de arrumar meu primeiro namorado aos catorze anos. Não me arrependo de ter vivido tão intensamente esse momento. Talvez me arrependa do meu primeiro namorado, mas jamais da primeira boneca.
Aos poucos, a vontade de brincar foi cessando e, hoje, minhas bonecas permanecem com as mesmas roupas com as quais estavam no dia de nossa despedida. Porém o espaço que elas tinham foi substituída por uma escrivaninha e livros, e o tempo dedicado a elas se tornou dedicação aos estudos. O tempo passa e mudamos nossas prioridades. Dessa forma, a infância foi guardada no armário.
Foi então que me apaixonei pela escola, pela leitura, literatura, poemas e já me inclinava para os futuros passos de uma jovem professora de português. Decidi que seguiria esse caminho, e Aguas de Lindoia com todas as belezas , com tudo que carregava e signifcava para mim, com meus amores, com meus amigos e familiares me fez arrumar as malas e seguir.

Eu quis sim continuar em Campinas depois da faculdade, mas tudo me fez arrumar as malas e voltar para o meu lugar. Deixei então minha grande paixão, e voltei como professora, como substituta, depois, contratada e, por fim, funcionária pública.

É por esse lugar que faço minha história, que trago comigo a vivência de meus alunos, que carrego minhas perdas e fracassos, mas aqui também que tenho aplausos de quem conheço, sorrisos de quem amo, e arrasto minhas conquistas. Por cada canto, passo também com meus cachorros, deixo meu sorriso, perco meu olhar, penduro minha risada e vivo da melhor forma o que se tem para viver.
Cidade pequena, de pessoas conhecidas, de paz, de silêncio e mansidão. Cidade verde, bem desenhadinha, aconchegante. Devo a você um poema, uma declaração, para retribuir um pouco por ter sido plano de fundo, cenário e protagonista de minha vida!
Como diz a melodia de Zequinha de Abreu, Tardes de Lindoia(*), até o sol morre tristonho, porque não quer deixar a cidade. A cidade é feita de luz, e quando ela se vai, nós nos vestimos de sonhos.
Quer interpretação mais poética?!
Espero que essa cidade continue sendo parte da história de muita gente que vive e que passa por aqui e que seja sempre uma cidade calma, de paz, de verde, de sonhos!
(*)
"Tardes silenciosas de Lindóia
Quando o sol morre tristonho
Tardes em que toda a natureza
Veste-se de véu, e de sonho"