Em atraso, mas sempre em tempo de atualizar minhas leituras por aqui. Acho que 2024 será o ano que irei ler menos livros... e o tempo tem passado tão rápido, que acredito que não conseguirei atingir dez exemplares. Tenho sempre um livro me acompanhando, mas acontece que agora estou acompanhada também, e o livro acaba ficando para depois... Daquelas viradas de chave da vida da qual sou imensamente grata. É minha escolha diária, meu agradecimento constante, um amor tranquilo.
"O ano em que te conheci" foi um livro que comprei, se não me engano, na Bienal de 2022 (em São Paulo). Certamente foi escolhido pela autora que já conheço e pelo título que é inspirador, sugestivo. A propósito, o ano em que o conheci foi em 2023 e logo fará um ano do que acredito ser a minha melhor escolha. Mas não vamos perder o foco do livro em questão.
Que gostoso foi acompanhar essa história, parece que eu morava ali com aquelas pessoas tão diferentes e tão complementares, que as via da minha janela junto de Jasmine, a solteira, que perdeu o emprego e decidiu cuidar da reforma do jardim ao mesmo tempo que fazia uma reforma interna, íntima.
A sensação de conviver em um condomínio, cheio de casas próximas dá um clima de aconchego no livro. Do outro lado da rua, temos Matt - um vizinho que enfrenta problemas com o seu casamento, com o relacionamento com os filhos, com bebidas, o qual também perde o emprego e se vê perdido.
O Dr. Jameson também é um personagem adorável, que já é de idade, sozinho, passa o Natal há 15 anos sem ninguém da família e ocupa-se cuidando de modo carinhoso da vizinhança, doando seu tempo para ouvir histórias, fazendo daquelas pessoas a sua verdadeira família.
Além desses, temos um senhor mais reservado cuja esposa enfrenta um problema de saúde e fica internada, e ele passa um tempo ausente, cabendo aos demais cuidar daquele espaço, de um gato... E depois acompanhar a volta dele com a esposa debilitada.
São histórias de pessoas comuns com problemas comuns. Não há nada de extraordinário, o que faz com que o enredo aconteça dentro de nós, perpasse nossa existência e nos faça refletir como se estivéssemos junto deles passando por cada situação.
Cecilia Ahern não nos decepciona em seus exemplares. O enredo tem um pouco de tudo.
Nossa protagonista perdeu a mãe, o pai tem outra mulher da qual ela não tem proximidade e nem possui uma relação harmônica com a figura paterna, tem uma irmã com Síndrome de Down a qual parece ter uma vida um tanto quando independente e bem resolvida, suas amigas seguiram o caminho do casamento e da maternidade e ela sente que sua vida está estagnada, principalmente depois da perda do emprego.
Quando a rotina de cada um é alterada, afetada por problemas pessoais ou profissionais, eles ficam reduzidos à janela, a observações do que se passa ao redor e crescem como seres humanos, encontram novos desafios, fazem descobertas, amadurecem, permitem contar a vida e ouvir sobre ela, estabelecem novos laços que serão, de alguma forma, um porto seguro para seguirem suas vidas.
É bonito ver a construção dessa proximidade, que começa com o olhar, passa por julgamentos, há ataques, conversas, até a construção de uma consideração, de respeito, de solidariedade com o outro, de perceber que todos têm algum problema, que as pessoas carregam uma história, que têm suas dificuldades, suas limitações, suas fraquezas e também seus propósitos.
Quem achou o romance raso é que não compreendeu que é a vida acontecendo ali, é um convite para que você também cuide do seu jardim, de que olhe para a vizinhança com mais carinho, cuidado e compaixão e seja uma pessoa útil para o outro e melhor para a sociedade como um todo.
E mais uma consideração sobre o exemplar é que ele é dividido em estações: começando pelo inverno, em que as pessoas são mais frias e duras, mostrando que a vida é feita de fases e que temos que respeitar os momentos e cuidar "do jardim" de acordo com a estação, que tudo há de florescer novamente, afinal a vida é cíclica.
SELEÇÃO DE TRECHOS...
"Não podemos passar essa hora da mesma maneira, nem podemos pensar sobre ela do mesmo jeito. Faça o que quiser com a sua, mas não me arraste junto; não tenho tempo a perder."
"Se quiser fazer alguma coisa, você tem de fazer isso agora. Se quiser alguma coisa, então precisa dizer agora. E, principalmente, tem de fazer você mesmo."
"Distância é tudo o que posso dar a alguém que não consigo compreender."
"Você é um ato circense completo e não consigo resistir em ser seu público."
"Quando você não tem para onde ir, o tempo fica muito mais lento."
"Quando digo a mim mesma o que estou procurando, então realmente sei o que devo encontrar. A ordem é dada e o corpo e a mente são obedientes e respondem."
"Eu sinto como se estivesse acumulando poeira em uma prateleira enquanto o mundo continua rodando ao meu redor e não há nada que eu possa fazer para impedi-lo ou me juntar a ele."
"Há muitas coisas que eu poderia ter dito. E várias, várias maneiras pelas quais eu poderia ter expressado minha decepção."
"É a vida real, são as coisas que quero saber."
"Algumas pessoas permanecem estranhas para sempre."
"Se você quer algo feito do jeito certo, faça você mesmo: sempre foi minha filosofia."
"Experimente terminar algo que você começou pelo menos uma vez na vida."
"Olho pela janela e me sinto renovada pelo céu azul e limpo."
"Nunca faça algo que não possa ser desfeito."
"Essa pessoa está me oferecendo a luz do sol no meio de um dos meus invernos mais longos."
"Planejando amanhãs alternativos com sucesso - PAAS"
"Ela sempre teve tudo resolvido. Ao contrário de mim. Sou eu que, de repente, não tenho a menor ideia do que estou fazendo, sou eu que não tem planejado amanhãs alternativos com sucesso."
"Eu não seria capaz de dizer quais são meus sonhos se alguém me perguntasse agora, nem minhas esperanças e desejos. Se me pedissem para colocar um plano em ação, eu não saberia por onde começar."
"São todas coisas visíveis representando algo invisível: esperança."
(Bela imagem, mas não sou flor de inverno.)
- Ontem. Como todas as outras coisas. E, se não deu ontem, então agora."